quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

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Obrigada.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Uma questão de sóis


"Pus dois solinhos no meu desenho...".
"Porquê, bebé?".
"Porque um só era pouca luz...".

(extracto de uma manhã de sábado com a filhota)

domingo, 25 de novembro de 2007

Tu Capuchinho Vermelho. Eu Lenhador. Nós Lobo...


Aqui há uns dias pediram-me para fazer de Capuchinho Vermelho. Empurrei uma écharpe vermelha por cima da cabeça e tentei pôr o meu ar mais angelical. A filhota deu dois passos para trás, olhou-me como um encenador experiente e depois de ponderar dois ou três segundos deu-me a sua aprovação: “Estás bem.”. Perguntei-lhe quem iria ela ser, e ela respondeu que seria o lenhador. Foi até à porta do quarto e deu meia volta. Quando voltou já encarnara o papel: “Eu sou o Lenhador, menina Capuchinho Vermelho... Não tenha medo... Eu vou protegê-la!”. “Proteger-me do quê?” perguntei-lhe com um ar supostamente espantado. “Do Lobo Mau que está além escondido atrás das árvores...” respondeu-me fingindo um ar amedrontado e apontando para o armário. Olhei em direcção às “árvores” e exclamei: “Ah! Eu não tenho medo... Onde é que ele está? Onde é que ele está que eu já lhe digo...”. A filhota fez um ar algo atónito e murmurou... “Não... Não... Que o Lobo é muito mau, menina...”. Eu lancei-lhe um ar incrédulo, levantei-me, fui até ao armário e fingi dar um murro no topo da cabeça do lobo que se escondia atrás dele. “Pronto. Já está. Não há mais Lobo Mau!...”. A filhota olhou-me com um ar ainda mais incrédulo. Por momentos pareceu-me uma actriz deixada sem deixas. Mas enganei-me. Ela lançou-me um meio sorriso e do topo dos seus quatro anos recordou-me: “Oh mãe... Há muitos lobos por aí...”. Pois há filhota. E logo a seguir, quando foste outra vez até à porta do quarto, deste meia volta e voltaste, mostraste-me que também já sabias outra coisa... Porque me disseste: “Menina Capuchinho Vermelho... Não tenha medo! Eu sou o Lobo Bom mas não lhe faço mal!... Também há lobos bons, sabe?...”.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

As Avós Centenárias e as Espécies


WWW.CLIMATECRISES.NET. Somos seres evoluídos e inteligentes...? Veio-me agora à ideia que nem os protozoários se lembrariam de destruir o seu único habitat... Talvez a minha avó centenária tivesse razão, quando dizia que a ignorância é meio caminho andado para a felicidade. Talvez então, não termos "evoluído" tanto... tivesse sido meio caminho andado para a sobrevivência do planeta e das espécies. Precisamos realmente de todas as inutilidades que compramos? Precisamos de mudar de telemóvel todos os anos? Os nossos filhos precisam de tantos brinquedos? Ou precisariam bem mais, de um mundo bonito onde pudessem criar os seus filhos?... Também podemos fazer como aquele macaquinho e pôr as mãos sobre os olhos, ouvidos e boca, e fingir que isto é um filme que só acaba quando sairmos da sala de cinema...

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

A Lenda das Amendoeiras ou Como Não Estragar O Que Estava Bem...

Há muito tempo, quando o Algarve pertencia aos mouros, havia ali um rei que desposou uma princesa do norte da Europa, chamada Gilda. Ela era linda e todos lhe chamavam a "Bela do Norte".

Apesar das festas que houve nessa ocasião, uma tristeza apoderou-se de Gilda. Nem todos os presentes do esposo conseguiam pôr-lhe um sorriso no rosto. Gilda sentia saudades da sua terra natal e pouco a pouco foi ficando doente. O rei conseguiu por fim um dia, que Gilda lhe dissesse, que toda a sua tristeza se devia às saudades que sentia de ver os campos cobertos de neve da sua terra.

No temor de perder a esposa amada o rei teve uma ideia. Deu ordem para que em todo o Algarve fossem plantadas amendoeiras, e no princípio da Primavera quando estas se cobriram de flores brancas, o bom rei disse à sua rainha:
- Gilda, vinde comigo à varanda da torre mais alta do castelo. Tenho uma surpresa para vós...

Logo que chegou ao alto da torre, a rainha bateu palmas e soltou gritos de alegria ao ver todas as terras cobertas por um manto branco que parecia neve. A rainha ficou tão contente que dentro em pouco ficou completamente curada. A tristeza que a matava lentamente desapareceu, e Gilda sentia-se alegre e satisfeita junto do rei que a adorava.

E, todos os anos, no início da Primavera, ela via do alto da torre, as amendoeiras cobertas de lindas flores brancas, que lhe lembravam os campos cobertos de neve, como na sua terra.

...

Pois é, miúdas... Estas são as histórias que nos contam em pequenas.... Um rei forte. Um rei amante. Um rei bom. Huuuum... Lembram-se de crescer a sonhar com ele?... Como queríamos que este corpo se despachasse... para sermos Rainhas?... Quantos anos levámos a pensar "nele"?...

E depois... Depois... Há quem tenha sorte - ou saiba jogar xadrez como me dizia alguém um destes dias... - e há quem não saiba, e acabe agarrada a um sapo que ainda não percebeu que pode ser mais do que é.

Mas que eles existem, existem. Porque eu já os vi. E são mesmo fortes. E amam-nos mesmo. E são mesmo bons... Tão bons!... E escolhem sempre uma Gilda...

Bem... talvez... se nós formos mais Gildas, eles consigam ser mais Reis... Ouvi a Rita Ferro dizer no outro dia que "eles" andam meio baralhados. Estavam habituados e gostavam da conquista; agora são conquistados. Esta troca de papéis não lhes dá espaço para nos plantar amendoeiras... E rouba-nos a nós o prazer de olhar a neve... enroscadas no seu abraço.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Cosmos

É dado assente que o universo se encontra em expansão. Isto foi demonstrado e sustentado pela, entre outras provas, existência dos quasares (como eu adorava poder ver um!).

Até há bem pouco tempo era aceite por praticamente toda a comunidade de astrónomos e astrofísicos que o universo continuaria em expansão enquanto a energia que está a fazer afastar uns dos outros os corpos celestes fosse maior do que a gravidade, mas que em determinada altura o efeito de elástico desta, fizesse com que a matéria invertesse a marcha. Nesse momento aconteceria o princípio do, chamemos-lhe, inverso do Big Bang. Tudo o que há no cosmos começaria a mover-se num único sentido; tudo convergiria para um mesmo e único ponto no espaço e continuaria o seu percurso até o alcançar.
Se restasse alguém vivo para contar a história depois de tudo abraçar esse ponto, talvez lhe chamasse o Big Glup.

Acontece que descobertas recentes vêem postular exactamente o contrário (não estou seguro que já haja provas concretas, daí, por precaução, lhe ter chamado postulado). Mas então, o que foi que se descobriu agora? Muito simplesmente que a gravidade cósmica nem sempre “obedece às mesmas regras” da terráquea e que, em circunstancias particularíssimas, em vez de atrair pode repelir (espantoso, não é?).
Ora isto implica que os corpos celestes quando chegarem àquele ponto em que supostamente voltariam para trás, não só não o farão como ainda acelerarão o seu movimento em direcção ao infinito. Aliás, a uma quantidade de infinitos. É claro que nunca atingirão nenhum infinito – como se isso fosse possível. A energia fatalmente ir-se-á perdendo, gastando, consumindo até não restar… nada. Apenas um gigantesco universo de escuridão.

Bom, quer seja duma maneira ou de outra, que ninguém se preocupe. Será daqui a tanto, tanto tempo, tempo quase imedível, que do ser humano nem sequer memória haverá. Nem dos humanos nem de quaisquer outras formas de vida biológica. Se for esta a única forma da vida ser vida, ela desaparecerá.

A vida terminará, o que, na minha opinião, faz todo o sentido.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Se eu morrer novo...









Se eu morrer novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva —
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo (E nunca a outra cousa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão —
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído.

Alberto Caeiro