Hoje ouvi dizer, que depois de ter anunciado oficialmente o fim da existência do limbo, o Vaticano anuncia agora o fim da existência do Diabo - e do Inferno “propriamente dito’ (o que quer que seja que isso queira dizer). Independentemente de ser ou não verdadeira a negação papal da criatura e do seu habitat, a verdade é que as coisas nunca serão assim tão simples...
A palavra diabo tem a sua origem na palavra grega Diabolon, que surge da junção de “dia” (separar) e “bolon” (outro). Ou seja, o outro que mantemos separado de nós, por o sabermos parte de nós. O outro lado de nós. O oposto. O negativo. Acho que Rui Veloso lhe chamou o nosso lado lunar. E eu acho que é um bom termo. Muito melhor que “diabo”.
Eu diria que o Vaticano se enganou (a ser verdade a tal notícia). O “diabo” continua a existir. É, como sempre foi, aquela parte de nós menos controlável, mais negra, menos lógica, mais descontente. Que persistirá enquanto existirmos. Mais modesta ou mais exuberante. Mais inerte ou mais activa.
E quanto ao desaparecimento do Inferno, também discordo - enquanto houverem "diabos" (pessoais ou colectivos) haverão infernos: privados ou mediatizados, silenciosos ou gritantes.
NOTA: Parece-me importante reforçar aqui uma ideia: eu acredito na liberdade, muito particularmente na liberdade de cada pessoa professar o seu credo. Mal está o homem que não tem fé - seja numa religião, numa filosofia, num sonho ou noutra coisa qualquer. A fé alimenta o nosso lado bom. Faz-nos acreditar que é possível ir mais longe. O que me preocupou neste texto, foi exprimir uma noção que acho basilar para se ser um bom crente - independentemente daquilo em que acreditemos. E essa noção é que o bom e o mau provêm ambos de nós e, que dessa forma, todos temos a responsabilidade de responder face ao que acontece em nosso redor, e o dever de tentar fazer mais e melhor do que fazemos.
1 comentário:
Separando as águas (isto vem a propósito porque acabei de sair do duche):
A Católica Igreja, tal como quase todas as outras, não faz raciocínios tão elaborados como esse. Sempre foi maniqueísta. Por isso, essa parte mais... hmmmm... mais humana da questão é secundária para a doutrina.
Mas ainda segundo esta, se já não há limbo, se deixou de haver inferno... para onde vão os meninos que se portam mal? Como é que os pais católicos agora vão educar os filhos? Para onde lhes irão dizer que vão parar se baterem no primo minorca?
Ó bosses da Católica, fazem favor de trazer o inferno de volta? Haja responsabilidade, gaita! Ai a vida!
Quanto à questão filosófica (como eu detesto o termo, blec!):
é claro que com ou sem igreja (de preferência sem), não só o nosso lado reptiliano continuará a existir, como também as nossas escuridões interiores. Chamem-se elas "lado lunar", "dark side" ou o popular "tu, pá, às vezes consegues ser um ganda filho-da-mãe!".
Há noite e dia, escuro e claro em nós. E digam lá o que disserem, esse é um dos maiores fascínios do ser humano.
Nisto, nem a igreja tem voz, nem quem quer que seja. Não é institucionalizavel!
Agora vou passear o cão. O cão? O cão era uma das imagens do Demo! Tenho de dizer ao Pantufa que foi despromovido. Coitado...
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