sábado, 8 de dezembro de 2007
Uma questão de sóis
"Pus dois solinhos no meu desenho...".
"Porquê, bebé?".
"Porque um só era pouca luz...".
(extracto de uma manhã de sábado com a filhota)
domingo, 25 de novembro de 2007
Tu Capuchinho Vermelho. Eu Lenhador. Nós Lobo...
Aqui há uns dias pediram-me para fazer de Capuchinho Vermelho. Empurrei uma écharpe vermelha por cima da cabeça e tentei pôr o meu ar mais angelical. A filhota deu dois passos para trás, olhou-me como um encenador experiente e depois de ponderar dois ou três segundos deu-me a sua aprovação: “Estás bem.”. Perguntei-lhe quem iria ela ser, e ela respondeu que seria o lenhador. Foi até à porta do quarto e deu meia volta. Quando voltou já encarnara o papel: “Eu sou o Lenhador, menina Capuchinho Vermelho... Não tenha medo... Eu vou protegê-la!”. “Proteger-me do quê?” perguntei-lhe com um ar supostamente espantado. “Do Lobo Mau que está além escondido atrás das árvores...” respondeu-me fingindo um ar amedrontado e apontando para o armário. Olhei em direcção às “árvores” e exclamei: “Ah! Eu não tenho medo... Onde é que ele está? Onde é que ele está que eu já lhe digo...”. A filhota fez um ar algo atónito e murmurou... “Não... Não... Que o Lobo é muito mau, menina...”. Eu lancei-lhe um ar incrédulo, levantei-me, fui até ao armário e fingi dar um murro no topo da cabeça do lobo que se escondia atrás dele. “Pronto. Já está. Não há mais Lobo Mau!...”. A filhota olhou-me com um ar ainda mais incrédulo. Por momentos pareceu-me uma actriz deixada sem deixas. Mas enganei-me. Ela lançou-me um meio sorriso e do topo dos seus quatro anos recordou-me: “Oh mãe... Há muitos lobos por aí...”. Pois há filhota. E logo a seguir, quando foste outra vez até à porta do quarto, deste meia volta e voltaste, mostraste-me que também já sabias outra coisa... Porque me disseste: “Menina Capuchinho Vermelho... Não tenha medo! Eu sou o Lobo Bom mas não lhe faço mal!... Também há lobos bons, sabe?...”.
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
As Avós Centenárias e as Espécies
WWW.CLIMATECRISES.NET. Somos seres evoluídos e inteligentes...? Veio-me agora à ideia que nem os protozoários se lembrariam de destruir o seu único habitat... Talvez a minha avó centenária tivesse razão, quando dizia que a ignorância é meio caminho andado para a felicidade. Talvez então, não termos "evoluído" tanto... tivesse sido meio caminho andado para a sobrevivência do planeta e das espécies. Precisamos realmente de todas as inutilidades que compramos? Precisamos de mudar de telemóvel todos os anos? Os nossos filhos precisam de tantos brinquedos? Ou precisariam bem mais, de um mundo bonito onde pudessem criar os seus filhos?... Também podemos fazer como aquele macaquinho e pôr as mãos sobre os olhos, ouvidos e boca, e fingir que isto é um filme que só acaba quando sairmos da sala de cinema...
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
A Lenda das Amendoeiras ou Como Não Estragar O Que Estava Bem...
Apesar das festas que houve nessa ocasião, uma tristeza apoderou-se de Gilda. Nem todos os presentes do esposo conseguiam pôr-lhe um sorriso no rosto. Gilda sentia saudades da sua terra natal e pouco a pouco foi ficando doente. O rei conseguiu por fim um dia, que Gilda lhe dissesse, que toda a sua tristeza se devia às saudades que sentia de ver os campos cobertos de neve da sua terra.
No temor de perder a esposa amada o rei teve uma ideia. Deu ordem para que em todo o Algarve fossem plantadas amendoeiras, e no princípio da Primavera quando estas se cobriram de flores brancas, o bom rei disse à sua rainha:
- Gilda, vinde comigo à varanda da torre mais alta do castelo. Tenho uma surpresa para vós...
Logo que chegou ao alto da torre, a rainha bateu palmas e soltou gritos de alegria ao ver todas as terras cobertas por um manto branco que parecia neve. A rainha ficou tão contente que dentro em pouco ficou completamente curada. A tristeza que a matava lentamente desapareceu, e Gilda sentia-se alegre e satisfeita junto do rei que a adorava.
E, todos os anos, no início da Primavera, ela via do alto da torre, as amendoeiras cobertas de lindas flores brancas, que lhe lembravam os campos cobertos de neve, como na sua terra.
...
Pois é, miúdas... Estas são as histórias que nos contam em pequenas.... Um rei forte. Um rei amante. Um rei bom. Huuuum... Lembram-se de crescer a sonhar com ele?... Como queríamos que este corpo se despachasse... para sermos Rainhas?... Quantos anos levámos a pensar "nele"?...
E depois... Depois... Há quem tenha sorte - ou saiba jogar xadrez como me dizia alguém um destes dias... - e há quem não saiba, e acabe agarrada a um sapo que ainda não percebeu que pode ser mais do que é.
Mas que eles existem, existem. Porque eu já os vi. E são mesmo fortes. E amam-nos mesmo. E são mesmo bons... Tão bons!... E escolhem sempre uma Gilda...
Bem... talvez... se nós formos mais Gildas, eles consigam ser mais Reis... Ouvi a Rita Ferro dizer no outro dia que "eles" andam meio baralhados. Estavam habituados e gostavam da conquista; agora são conquistados. Esta troca de papéis não lhes dá espaço para nos plantar amendoeiras... E rouba-nos a nós o prazer de olhar a neve... enroscadas no seu abraço.
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Cosmos
É dado assente que o universo se encontra em expansão. Isto foi demonstrado e sustentado pela, entre outras provas, existência dos quasares (como eu adorava poder ver um!).
Se restasse alguém vivo para contar a história depois de tudo abraçar esse ponto, talvez lhe chamasse o Big Glup.
Acontece que descobertas recentes vêem postular exactamente o contrário (não estou seguro que já haja provas concretas, daí, por precaução, lhe ter chamado postulado). Mas então, o que foi que se descobriu agora? Muito simplesmente que a gravidade cósmica nem sempre “obedece às mesmas regras” da terráquea e que, em circunstancias particularíssimas, em vez de atrair pode repelir (espantoso, não é?).
Ora isto implica que os corpos celestes quando chegarem àquele ponto em que supostamente voltariam para trás, não só não o farão como ainda acelerarão o seu movimento em direcção ao infinito. Aliás, a uma quantidade de infinitos. É claro que nunca atingirão nenhum infinito – como se isso fosse possível. A energia fatalmente ir-se-á perdendo, gastando, consumindo até não restar… nada. Apenas um gigantesco universo de escuridão.
Bom, quer seja duma maneira ou de outra, que ninguém se preocupe. Será daqui a tanto, tanto tempo, tempo quase imedível, que do ser humano nem sequer memória haverá. Nem dos humanos nem de quaisquer outras formas de vida biológica. Se for esta a única forma da vida ser vida, ela desaparecerá.
A vida terminará, o que, na minha opinião, faz todo o sentido.
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
Se eu morrer novo...
Se eu morrer novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.
Não desejei senão estar ao sol ou à chuva —
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo (E nunca a outra cousa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.
Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão —
Porque não tinha que ser.
Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído.
Alberto Caeiro
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Amor
- Pára de falar no amor! Todos os idiotas do mundo dizem que amam alguém. Não significa nada!
- Mas é verdade, eu amo-a.
- Não significa mesmo nada! O que se sente só a nós diz respeito. É o que fazemos às pessoas que dizemos amar que interessa. É a única coisa que conta!
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In "The Last Kiss", de Tony Goldwyn
domingo, 21 de outubro de 2007
Gentleman lacking in BA after Midnight
Eu GOSTO do Bairro Alto durante o dia. Gosto de visitar as lojinhas de novos artistas que proliferam pelas ruas apertadas e que escondem sempre algo de bonito e original. Até ao domingo à tarde, quando está tudo fechado, eu gosto de subir e descer as ruas íngremes e incertas. Gosto de cruzar-me com as pessoas que realmente as habitam e deixar que o meu passeio culmine (where else?) na Haangen Daaz ou na Fnac do Chiado.
Eu GOSTO do Bairro Alto à noite. Adoro jantar naquele ambiente acolhedor e ecléctico. Há imensos sabores por onde escolher e, regra geral, é-se bem atendido e bem servido.
Eu DETESTO o Bairro Alto após a meia-noite. O bairro invadido pela parafernália do copo atrás de copo. Pelos meninos imberbes que se passeiam a ensopar garrafas de litro de tinto ou cerveja como prova indiscutível da sua masculinidade. Pelos trintões e quarentões com as suas jeans, as suas camisas brancas ou pretas (atenção porque tem de ser mesmo branca ou preta... nothing in between) e os seus risos made to look cool mal estudados. Por estes machos último grito eu nutro um especial desagrado. Não porque se vistam todos de igual. Riam todos da mesma maneira. Ou seja óbvio o atropelo de uma quiçá boa identidade pessoal por uma má identidade de grupo. Mas porque abomino a forma como deixam cair o verniz só para chegar primeiro ao balcão das bebidas. Onde estão os cavalheiros? Na noite do BA parecem ser uma raça, francamente, em extinção...
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
dia-bolon
Hoje ouvi dizer, que depois de ter anunciado oficialmente o fim da existência do limbo, o Vaticano anuncia agora o fim da existência do Diabo - e do Inferno “propriamente dito’ (o que quer que seja que isso queira dizer). Independentemente de ser ou não verdadeira a negação papal da criatura e do seu habitat, a verdade é que as coisas nunca serão assim tão simples...
A palavra diabo tem a sua origem na palavra grega Diabolon, que surge da junção de “dia” (separar) e “bolon” (outro). Ou seja, o outro que mantemos separado de nós, por o sabermos parte de nós. O outro lado de nós. O oposto. O negativo. Acho que Rui Veloso lhe chamou o nosso lado lunar. E eu acho que é um bom termo. Muito melhor que “diabo”.
Eu diria que o Vaticano se enganou (a ser verdade a tal notícia). O “diabo” continua a existir. É, como sempre foi, aquela parte de nós menos controlável, mais negra, menos lógica, mais descontente. Que persistirá enquanto existirmos. Mais modesta ou mais exuberante. Mais inerte ou mais activa.
E quanto ao desaparecimento do Inferno, também discordo - enquanto houverem "diabos" (pessoais ou colectivos) haverão infernos: privados ou mediatizados, silenciosos ou gritantes.
NOTA: Parece-me importante reforçar aqui uma ideia: eu acredito na liberdade, muito particularmente na liberdade de cada pessoa professar o seu credo. Mal está o homem que não tem fé - seja numa religião, numa filosofia, num sonho ou noutra coisa qualquer. A fé alimenta o nosso lado bom. Faz-nos acreditar que é possível ir mais longe. O que me preocupou neste texto, foi exprimir uma noção que acho basilar para se ser um bom crente - independentemente daquilo em que acreditemos. E essa noção é que o bom e o mau provêm ambos de nós e, que dessa forma, todos temos a responsabilidade de responder face ao que acontece em nosso redor, e o dever de tentar fazer mais e melhor do que fazemos.
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Um imPOSTor
Agora, se não se importam, vou até ali cair para o lado.
That's it.
(Bolas, creio que fiz um post...)
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
... Saramago :-(
Quando se sobe ao torreão do Castelo de Palmela e se olha a imensidão das planícies ao nosso redor, é impossível não imaginar os nossos antepassados a lutar por aquela terra, palmo a palmo, meses a fio. É impossível não pensar naqueles que pereceram para que esta terra fosse nossa.
E é também impossível, não recordar a proposta de José Saramago para que devolvamos Portugal a Espanha, sem pensar: "Que tolice, senhor Saramago!". Devolver a terra que herdámos, como quem devolve no café, uma bica que chegou mal servida?...
Pergunta #1
Bagatelas.
No entanto, tantas vezes, tão difíceis de obter.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Pressentimento...
Antes envolvência, proximidade, cumplicidade e bem-estar.